Fui presenteada por uma amiga com um livro da Florbela Espanca. Me intriga o jeito que ela escreve. As poesias tem uma sensibilidade exacerbada por fortes impulsos eróticos. São discretamente um verdadeiro e ousado diário íntimo com uma elavada temperatura de confidências ao leitor. Pra quem não conhece, Florbela Espanca nasceu em 1894 em Vila Viçosa (Alentejo) e logo mudou-se para o Brasil. Abaixo, um dos meus favoritos:
QUEM SABE?!
Eu sigo-te e tu foges. É este o meu destino:
Beber o fel amargo em luminosa taça,
Chorar amargamente um beijo teu, divino,
E rir olhando o vulto altivo da degraça!
Tu foges-me e eu sigo o teu olhar:
Por mais que fujas sempre, um sonho há de alcançar-te
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há de encontrar-te?!
Demais, nem eu talvez, perceba se o amor
É este perseguir de raiva, de furor
Com que eu te sigo assim
Ou se é então a fuga eterna, misteriosa,
Com que me foges sempre
E é por me fugires sim, que talvez me queiras mais
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